Friday, May 01, 2009

Quatro expressões e o mundo seria melhor - OBS 2

    Sempre se diz que o uso mais frequente de quatro pequenas expressões poderia salvar o mundo de hoje. São elas: "por favor", "me desculpe", "com licença" e "obrigado". Realmente. Nunca foram tão necessárias essas pequenas pérolas como exatamente na sociedade atual. Isto porque, apesar de haver problemas tão urgentes a serem resolvidos e tanta mídia para divulgar possíveis soluções para os mesmos, ainda se corre o risco de ver tudo ir por água abaixo por não se utilizar essas expressões com cuidado e constância por elas (e por nós) merecidos.
    É louvável ver pelas ruas boas ações, como alguém ajudando um velhinho a atravessar a rua, a subir e descer dos ônibus etc. É sempre bom ver gentileza gerando gentileza, como uma vez disse o profeta que levava tal atitude em seu próprio nome. A forma de pensar e agir de algumas pessoas, no sentido de não se aborrecerem para não jogarem adrenalina fora ainda é tocante.
    Há, entretanto, pequenas (faltas) de atitudes a serem melhoradas. Não sei de onde vem minha impressão de que, para algumas pessoas, falar um "por favor", "com licença" ou um "obrigado" significa diminuição de sua dignidade. Quando chega a hora do "me desculpe", então... parece que a humilhação atinge patamares surreais. Dou o devido desconto àquelas que, ainda que pudessem e tivessem também de falar tais expressões, são tão distraídas que nem sabem onde fica o céu ou a terra. Mas que, ao mesmo tempo, não rasgam dinheiro... hehe
    Gosto de testar as pessoas numa forma... digamos... psicossocial. Por aí. De construir situações que as provoquem. Mas não sou inflexível. Muitas vezes desisto e deixo o fato seguir seu rumo. Coisas banais, como sentar no lado da cadeira que dá para o corredor em um ônibus. Certamente alguém diria que seria mais simples, e educado até, eu já me dirigir para o lado da janela. Mas não podemos esquecer que eu tenho o direito de querer sentar no corredor. De qualquer forma, algumas pessoas são capazes de chegarem e se postarem ao meu lado sem se manifestarem. Mas que agradecem e se sentam quando eu chego para o lado da janela. Fora os casos das que não gostam, mesmo, de se sentarem na janela, por que as outras simplesmente não pedem licença e tomam seu assento?
    Calçadas também são uma boa fonte de testes. Como geralmente estou sozinho, observo às vezes, que grupos de três, quatro pessoas lado a lado vêm em minha direção. A lógica do pensamento, para mim, é: eu estou em menor número e eles, numa formação alargada, teriam de se desviar de mim. Mas, às vezes, o que acontece é o contrário: eu tenho de me espremer junto à parede ou sair da calçada para que passe a caravana. Tudo bem. Meu dia e meu mundo não serão arruinados por isso. Mas por que as pessoas não observam tudo isso? Ou sou eu que observo demais? Eu chego para o lado. Um dia elas podem encontrar um que não o faça e ainda queira confusão por terem esbarrado nele.
    Esta é minha preocupação com essas observações. As pessoas estão tão distraídas pensando em si próprias ou em seu grupo que ignoram o restante, muitas vezes. E a distração é tanta que, quando agradeço a alguém por algo - como o rapaz que limpa os banheiros em shoppings (sim, eu agradeço e ainda cumprimento com um "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite", afinal, se não fosse por ele, o banheiro estaria uma pocilga, diga-se) -, muitas vezes vejo espanto em sua expressão. Mesmo um cobrador (ou trocador) de ônibus às vezes fica espantado com um agradecimento. E não sou o único que agradece, pelo que vejo. Mas provavelmente ele esteja mais acostumado a ouvir reclamações do que agradecimentos. Alguns não chegam nem a responder. Mas aí não sei se pela surpresa ou falta de educação, mesmo.
    Agora, o pesadelo: o "me desculpe". Assumir a própria culpa ou erro em algum momento parece ser o que de pior existe atualmente em termos de comportamento. Parece que toda sua dignidade cai por terra ao agir assim. Pisar no pé de alguém, esbarrar em outro no shopping, furar fila ou usar o caixa errado do supermercado parecem ser atos que devem ser encarados como naturais e, portanto, sem nenhuma razão de serem censurados. Ou de seus praticantes terem de se desculparem. E brigas são geradas em boates porque algum descuidado cometeu a horrível falha de esbarrar em um pitboy. Mulheres batem-boca umas com as outras porque alguém esbarrou com a bolsa em uma loja lotada (essas bolsas "discretas" que mulheres sempre gostam, maiores que elas próprias).
   Uma vez chamei o fiscal de caixa para inocentar perante ele a operadora do caixa de dez volumes que, até sem graça, contabilizava as compras de DOIS carrinhos LOTADOS de um senhor que ainda estava longe dos 60 anos. Falei com ele que ela não poderia ser responsabilizada pelo ato errado daquele homem que acabou gerando reclamações de vários que também estavam na fila. E o que o homem fez? Uma cara feia e já foi argumentando que estava com pressa e outras coisas. Simplesmente o ignorei, porque também não adiantaria tentar conscientizá-lo ali, naquele momento, de que dois carrinhos lotados configuravam um cenário incompatível com sua pressa.
    E tão importante quanto pedir desculpas por algo a alguém, é aceitar o pedido feito por parte de quem errou. Estava eu à saída de um show de Lô Borges, no Rio, a conversar com o irmão deste, Telo, quando, ao levantar o braço direito, atingi em cheio o rosto de uma senhora que saía do show. Imediatamente pedi-lhe desculpas e até perguntei se a tinha machucado. Mas ela fez uma expressão de... sei lá... de "Como pode?!?! Você me atingiu!!! Atingiu meu roooostooo!!!", ou algo do gênero e saiu meneando a cabeça. Até o Telo demonstrou que não tinha entendido a atitude dela, mas... enfim, vida que segue.
    O que quero crer, no final das contas, é que as quatro expressões citadas ainda estão em franco uso na sociedade. E que falta apenas uma reafirmação diária mais veemente por parte de seus integrantes, no sentido de levar o uso delas a todas as situações. E, ainda, que o grupo dos que não as utilizam, ou não as aceitam, ou não as entendam é cada vez menor. E tem de ser assim, caso contrário, ainda nascerá o sol do dia em que as pessoas andarão pelas ruas umas esbarrando nas outras para não pedirem licença, para se reafirmarem perante... bem... perante algo que certamente ainda existirá apenas em suas mentes: seu próprio pedestal.

1 Comments:

At 6:49 AM, Blogger Sabrina said...

Ótimo post Luciano. E você resumiu tudo na sua última frase.

Vejo esta falta de humildade como proteção ao Ego. Um medo de perder a ilusão de quem se é diante do mundo; de não querer enxergar-se igual ao outro. Acreditam, erroneamente, que carregar a sua 'pompa' sobre quem se é e acumular bens que nutrem o Ego podem levá-los à felicidade.
Estão todos cegos vivendo ao redor do seu próprio umbigo.
O mundo está doente por falta de coração.

:)

 

Post a Comment

<< Home